FÓRUM JUVENIL DE ACTIVIDADES LUNÁTICAS DE ESCRITA
Nascido como prolongamento das Oficinas de Escrita Criativa para Jovens, o blog pretende ser, através de desafios práticos, um espaço criativo e experimental para a escrita. Promovendo total liberdade, não deixaremos de fornecer pistas para proteger e guiar os espíritos dos nossos escritores mais aluados.


quarta-feira, 2 de junho de 2010

Desafio lunar 1 - por Carolina

Desafio - Imaginar uma personagem incapaz de realizar o seu sonho

Acordei. Pensava que estava tudo normal, mas não. Olhei para o meu corpo onde esperava ver o meu pijama às flores, mas mais uma vez não. Estava com um vestido rasgado, esfarrapado…, e o meu cabelo? Também a pensar que estava normal, ou seja, limpo, liso. NÃO. Estava áspero, cheio de nós, e era de lã. Eu era definitivamente uma boneca de trapos, uma suja, enfadonha e mole boneca de trapos. E estava sozinha. O meu maior medo: estar só - apareceu quando me transformei nesta criatura. Mas porque é que estou sozinha? Porquê? Afinal tudo tem o seu par, o rato tem a rata, o boi a vaca, o Teddy a ursinha, o soldado a bailarina. E eu? O que é que os contadores de histórias tem contra as bonecas de trapos? Eles podiam ter inventado um príncipe que me amasse, um grande e maravilhoso castelo. Podiam ter criado umas maravilhosas amigas fadas, uns unicórnios para me servir… ou então, podia ser uma bruxa má que todos temessem, podia ter um castelo vindo das trevas, mil corvos negros como aliados, e um ou dois ogres para as tarefas mais desagradáveis. Pelo menos teria alguma coisa, mas uma boneca de trapos? Feita com restos de pano do quarto de costura, o que é que é pior do que isto? O quê?
E como já repararam esta mais do que na hora de fazer o almoço. Sim, porque caso não saibam, eu, agora, também cozinho, para os senhores brinquedos deste grande quarto.
Depois de cozinhar vou ver a chuva a cair, ou o sol a pôr-se. Vou espreitar pela janela e ver as mães das crianças a dizer que é para ir jantar, vou ver o meu dia a acabar, desculpem lá se vos decepcionei, mas não estava a contar com uma surpresa destas, mas também, sendo uma boneca de trapos nem adianta lutar para os meus sonhos concretizar.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Desafio Lunar 1 - por Manga Curta

Desafio - Imaginar uma personagem incapaz de realizar o seu sonho

Certa noite, quando cheguei a casa virei-me para o meu pai e disse:
-Estou farto, amanhã vou tornar-me num multimilionário.
Mas no dia seguinte quando acordei tinha-me transformado num drogado e estava na rua debaixo de uns caixotes. Eu não percebi aquilo mas como estava tão decidido em ser rico, levantei-me, e sem comer nada fui logo à procura de emprego. Depois de algumas horas já era hora de almoço mas como eu não tinha casa nem dinheiro não almocei, e continuei com a minha ideia de trabalhar.
Duas horas mais tarde sem conseguir o tal emprego sentei-me num banco, estava a desesperar, posso dizer que estava completamente deprimido. Estava tão cansado que comecei a falar sozinho quando de repente um idoso que por lá passava ouviu-me e disse:
-Eu estou quase a morrer, sou milionário e não tenho família, por isso se cumprires três desafios eu ofereço-te toda a minha riqueza.
Eu respondi: -Feito! Quais são os desafios?
-Primeiro tens de conquistar uma rapariga bonita e jeitosa em meia hora. – Disse o velho.
Passado vinte e nove minutos e cinquenta e nove segundos lá estava eu com uma beldade arrasadora.
O velho homem exclamou: -Muito bem! Agora tens meia hora para trazeres para aqui um racista e fazer-lhe cócegas nos pés até quase não conseguir respirar, de modo a fazê-lo prometer que não vai discriminar mais ninguém.
Desta vez agi ainda mais rápido, conseguindo cumprir o desafio nuns míseros vinte e nove minutos e cinquenta e oito segundos.
Finalmente o homem disse:
-Conseguiste. Agora o terceiro desafio, que por acaso é o mais temível e arriscado.
De repente eu desmaiei, o que se tornou num final inesperado para os espectadores.
Na sala de cinema a tela ficou preta, e com a música do final do filme surgiram as seguintes inscrições:
Realizador - Tim Burton
Drogado – Johnny Depp
Idoso – Brad Pitt
Mulher bonita e jeitosa (ainda mais do que possam pensar) – Angelina Jolie
Racista – Pinto Da Costa

terça-feira, 11 de maio de 2010

Desafio lunar 1 - por Beatriz Dias

Desafio - Imaginar uma personagem incapaz de realizar o seu sonho

Estava cansada. Estive o dia todo em sessões fotográficas, mas a noite seguinte seria a Grande Noite: a noite dos ''ÓSCARES''. Já sabia o que usar, um vestido preto elegante flutuava como água, aí sim, seria o pico da minha carreira! Cheguei a casa e apenas comi fruta, fiz os meus tratamentos de pele e fui dormir.

Dormi mal, tive muito calor e frio ao mesmo tempo, ouvi o mar e senti uma brisa, a minha cama tornou-se dura e a minha almofada fofa tinha desaparecido, o meu pijama transformou-se numa camisola de linho áspero. Cheirava a maresia e a minha boca estava salgada. Abri os olhos e vi um céu azul, estava deitada no chão de um barco, levantei-me meia tonta e só via mar á minha volta. O cheiro a maresia era agora mais intenso, estava descalça e as minhas unhas dos pés já não estavam pintadas, o meu cabelo estava frisado e mal tratado.

Comecei a explorar o barco e havia redes, cordas, barris de rum e peixe em caixotes. As imagens, cheiros e sabores que vivi naquele momento despertaram-me sensações nunca antes sentidas! Percorri todo o barco à procura de um telefone ou de qualquer outra fonte de comunicação mas nada encontrei. Fui ao convés onde estavam quinze marinheiros, todos com barba enorme mas, curiosamente, nenhum deles a tinha da mesma cor. O capitão do barco tinha uma cicatriz que lhe rasgava o olho e o lábio, e os restantes homens estavam á volta de uma mesa de madeira redonda, velha, todos a beber rum, a fumar cada um o seu charuto, e a jogar às cartas.

Gritei-lhes a pedir ajuda, mas, o seu único gesto foi atirarem-me uma esfregona para a mão e apontarem para o chão. Lá fui eu, pousei os meus joelhos frágeis no chão e esfreguei com água, sabão e algumas das minhas lágrimas. Belisquei-me cinco vezes para acordar mas nada. Era ali que iria passar o resto da minha vida...
Ao anoitecer olhei para as estrelas, deixei cair uma última lágrima para o mar escuro e salgado, e deitei-me novamente no chão duro com uma pinga de esperança de que tudo pudesse voltar ao normal, e que talvez um dia, eu pudesse usar o meu elegante vestido preto.

domingo, 9 de maio de 2010

Protector Lunar factor SER

Já todos conhecem os cuidados que devemos ter com a pele quando apanhamos sol. Um chapéu na cabeça, procurar sombras nas horas de mais calor, massajar o corpo com um protector solar quando vamos para a praia.
Há porém o outro lado, uma pele interior que nos coça por dentro, que nos chama para a fantasia e o sonho, e inevitavelmente faz-nos sentir "na lua". Enchemo-nos de coragem quando seguimos o nosso próprio luar, uma espécie de guia que nos atrai para aquilo que pertence exclusivamente a cada um de nós, que nos faz SER.
Estou convencido que escrever é conhecer-se a si próprio, conhecer inclusivé as nossas dúvidas mais profundas. Escrever, e ler, reflecte um luminoso bronze no nosso espírito - uma pele tocada pela voz da lua. Com um protector lunar podemos subir as escadas suspensas às estrelas, e sobretudo, aprendermos desde cedo a nunca termos medo da noite.
Somos únicos mas não estamos sós.

É crime roubar um livro de que gosta?

Queremos saber a vossa opinião sobre esta história. Acham que é um crime? E é um crime leve ou grave? O que o escritor relata é considerado roubar? As vossas opiniões PRECISAM-SE. Participem no link dos comentários logo abaixo do texto. (Não se esquecam de colocar o vosso nome).

"Aos dezasseis anos, em 1964, encontrei emprego para o período depois das aulas na livraria Pygmalion, uma das três livrarias anglos-alemãs de Buenos Aires. A proprietária era Lily Lebach, uma judia alemã que tinha fugido dos nazis e se instalara em Buenos Aires no final da década de 30, e que me encarregava diariamente da tarefa de limpar o pó a cada um dos livros da livraria - método pelo qual ela julgava (acertadamente)que eu depressa ficaria a conhecer a existência e a sua localização nas prateleiras.

Infelizmente, muito dos livros aliciavam-me para além da mera limpeza; queriam que eu pegasse neles, os abrisse e inspeccionasse e, por vezes, nem mesmo isso bastava. Algumas vezes furtei um livro tentador; levava-o para casa comigo, escondido no bolso do casaco, pois não me bastava lê-lo; tinha de o possuir, de o chamar meu.
A romancista Jamaica Kincaid, ao confessar o mesmo crime de furtar livros da biblioteca na sua infância em Antígua, explicou que não era sua intenção cometer um furto; mas «depois de ler um livro, não suportava a ideia de me separar dele»

...A Sra. Lebach sabia decerto que os seus empregados surripiavam livros, mas suspeito que, enquanto ela achasse que não excedíamos certos limites tácitos, continuaria a permitir a prática desse crime. Uma ou duas vezes, quando me viu embrenhado nalgum livro recente, mandou-me meter mãos ao trabalho e guardar o livro para o ler em casa nos meus tempos livres. Passaram-me pelas mãos livros maravilhosos na sua livraria."

[Alberto Manguel em Uma História da Leitura]

sábado, 8 de maio de 2010

Escrever ao som do Bolero de Ravel, ou como a música liberta o texto.

Na oficina de escrita realizada em Abril realizamos um exercício de escrita automática, ao mesmo tempo ouvimos um famoso trecho de música clássica, o Bolero de Ravel, obra que mantém uma melodia uniforme e repetitiva. O contraste está no crescendo ao longo da música; de facto o constante aumento de volume, da intensidade de orquestração, desperta atenção redobrada aos pensamentos e emoções circulantes em determinado momento.