FÓRUM JUVENIL DE ACTIVIDADES LUNÁTICAS DE ESCRITA
Nascido como prolongamento das Oficinas de Escrita Criativa para Jovens, o blog pretende ser, através de desafios práticos, um espaço criativo e experimental para a escrita. Promovendo total liberdade, não deixaremos de fornecer pistas para proteger e guiar os espíritos dos nossos escritores mais aluados.


terça-feira, 11 de maio de 2010

Desafio lunar 1 - por Beatriz Dias

Desafio - Imaginar uma personagem incapaz de realizar o seu sonho

Estava cansada. Estive o dia todo em sessões fotográficas, mas a noite seguinte seria a Grande Noite: a noite dos ''ÓSCARES''. Já sabia o que usar, um vestido preto elegante flutuava como água, aí sim, seria o pico da minha carreira! Cheguei a casa e apenas comi fruta, fiz os meus tratamentos de pele e fui dormir.

Dormi mal, tive muito calor e frio ao mesmo tempo, ouvi o mar e senti uma brisa, a minha cama tornou-se dura e a minha almofada fofa tinha desaparecido, o meu pijama transformou-se numa camisola de linho áspero. Cheirava a maresia e a minha boca estava salgada. Abri os olhos e vi um céu azul, estava deitada no chão de um barco, levantei-me meia tonta e só via mar á minha volta. O cheiro a maresia era agora mais intenso, estava descalça e as minhas unhas dos pés já não estavam pintadas, o meu cabelo estava frisado e mal tratado.

Comecei a explorar o barco e havia redes, cordas, barris de rum e peixe em caixotes. As imagens, cheiros e sabores que vivi naquele momento despertaram-me sensações nunca antes sentidas! Percorri todo o barco à procura de um telefone ou de qualquer outra fonte de comunicação mas nada encontrei. Fui ao convés onde estavam quinze marinheiros, todos com barba enorme mas, curiosamente, nenhum deles a tinha da mesma cor. O capitão do barco tinha uma cicatriz que lhe rasgava o olho e o lábio, e os restantes homens estavam á volta de uma mesa de madeira redonda, velha, todos a beber rum, a fumar cada um o seu charuto, e a jogar às cartas.

Gritei-lhes a pedir ajuda, mas, o seu único gesto foi atirarem-me uma esfregona para a mão e apontarem para o chão. Lá fui eu, pousei os meus joelhos frágeis no chão e esfreguei com água, sabão e algumas das minhas lágrimas. Belisquei-me cinco vezes para acordar mas nada. Era ali que iria passar o resto da minha vida...
Ao anoitecer olhei para as estrelas, deixei cair uma última lágrima para o mar escuro e salgado, e deitei-me novamente no chão duro com uma pinga de esperança de que tudo pudesse voltar ao normal, e que talvez um dia, eu pudesse usar o meu elegante vestido preto.

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