FÓRUM JUVENIL DE ACTIVIDADES LUNÁTICAS DE ESCRITA
Nascido como prolongamento das Oficinas de Escrita Criativa para Jovens, o blog pretende ser, através de desafios práticos, um espaço criativo e experimental para a escrita. Promovendo total liberdade, não deixaremos de fornecer pistas para proteger e guiar os espíritos dos nossos escritores mais aluados.


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Desafio Lunar 1 - por Manga Curta

Desafio - Imaginar uma personagem incapaz de realizar o seu sonho

Certa noite, quando cheguei a casa virei-me para o meu pai e disse:
-Estou farto, amanhã vou tornar-me num multimilionário.
Mas no dia seguinte quando acordei tinha-me transformado num drogado e estava na rua debaixo de uns caixotes. Eu não percebi aquilo mas como estava tão decidido em ser rico, levantei-me, e sem comer nada fui logo à procura de emprego. Depois de algumas horas já era hora de almoço mas como eu não tinha casa nem dinheiro não almocei, e continuei com a minha ideia de trabalhar.
Duas horas mais tarde sem conseguir o tal emprego sentei-me num banco, estava a desesperar, posso dizer que estava completamente deprimido. Estava tão cansado que comecei a falar sozinho quando de repente um idoso que por lá passava ouviu-me e disse:
-Eu estou quase a morrer, sou milionário e não tenho família, por isso se cumprires três desafios eu ofereço-te toda a minha riqueza.
Eu respondi: -Feito! Quais são os desafios?
-Primeiro tens de conquistar uma rapariga bonita e jeitosa em meia hora. – Disse o velho.
Passado vinte e nove minutos e cinquenta e nove segundos lá estava eu com uma beldade arrasadora.
O velho homem exclamou: -Muito bem! Agora tens meia hora para trazeres para aqui um racista e fazer-lhe cócegas nos pés até quase não conseguir respirar, de modo a fazê-lo prometer que não vai discriminar mais ninguém.
Desta vez agi ainda mais rápido, conseguindo cumprir o desafio nuns míseros vinte e nove minutos e cinquenta e oito segundos.
Finalmente o homem disse:
-Conseguiste. Agora o terceiro desafio, que por acaso é o mais temível e arriscado.
De repente eu desmaiei, o que se tornou num final inesperado para os espectadores.
Na sala de cinema a tela ficou preta, e com a música do final do filme surgiram as seguintes inscrições:
Realizador - Tim Burton
Drogado – Johnny Depp
Idoso – Brad Pitt
Mulher bonita e jeitosa (ainda mais do que possam pensar) – Angelina Jolie
Racista – Pinto Da Costa

terça-feira, 11 de maio de 2010

Desafio lunar 1 - por Beatriz Dias

Desafio - Imaginar uma personagem incapaz de realizar o seu sonho

Estava cansada. Estive o dia todo em sessões fotográficas, mas a noite seguinte seria a Grande Noite: a noite dos ''ÓSCARES''. Já sabia o que usar, um vestido preto elegante flutuava como água, aí sim, seria o pico da minha carreira! Cheguei a casa e apenas comi fruta, fiz os meus tratamentos de pele e fui dormir.

Dormi mal, tive muito calor e frio ao mesmo tempo, ouvi o mar e senti uma brisa, a minha cama tornou-se dura e a minha almofada fofa tinha desaparecido, o meu pijama transformou-se numa camisola de linho áspero. Cheirava a maresia e a minha boca estava salgada. Abri os olhos e vi um céu azul, estava deitada no chão de um barco, levantei-me meia tonta e só via mar á minha volta. O cheiro a maresia era agora mais intenso, estava descalça e as minhas unhas dos pés já não estavam pintadas, o meu cabelo estava frisado e mal tratado.

Comecei a explorar o barco e havia redes, cordas, barris de rum e peixe em caixotes. As imagens, cheiros e sabores que vivi naquele momento despertaram-me sensações nunca antes sentidas! Percorri todo o barco à procura de um telefone ou de qualquer outra fonte de comunicação mas nada encontrei. Fui ao convés onde estavam quinze marinheiros, todos com barba enorme mas, curiosamente, nenhum deles a tinha da mesma cor. O capitão do barco tinha uma cicatriz que lhe rasgava o olho e o lábio, e os restantes homens estavam á volta de uma mesa de madeira redonda, velha, todos a beber rum, a fumar cada um o seu charuto, e a jogar às cartas.

Gritei-lhes a pedir ajuda, mas, o seu único gesto foi atirarem-me uma esfregona para a mão e apontarem para o chão. Lá fui eu, pousei os meus joelhos frágeis no chão e esfreguei com água, sabão e algumas das minhas lágrimas. Belisquei-me cinco vezes para acordar mas nada. Era ali que iria passar o resto da minha vida...
Ao anoitecer olhei para as estrelas, deixei cair uma última lágrima para o mar escuro e salgado, e deitei-me novamente no chão duro com uma pinga de esperança de que tudo pudesse voltar ao normal, e que talvez um dia, eu pudesse usar o meu elegante vestido preto.

domingo, 9 de maio de 2010

Protector Lunar factor SER

Já todos conhecem os cuidados que devemos ter com a pele quando apanhamos sol. Um chapéu na cabeça, procurar sombras nas horas de mais calor, massajar o corpo com um protector solar quando vamos para a praia.
Há porém o outro lado, uma pele interior que nos coça por dentro, que nos chama para a fantasia e o sonho, e inevitavelmente faz-nos sentir "na lua". Enchemo-nos de coragem quando seguimos o nosso próprio luar, uma espécie de guia que nos atrai para aquilo que pertence exclusivamente a cada um de nós, que nos faz SER.
Estou convencido que escrever é conhecer-se a si próprio, conhecer inclusivé as nossas dúvidas mais profundas. Escrever, e ler, reflecte um luminoso bronze no nosso espírito - uma pele tocada pela voz da lua. Com um protector lunar podemos subir as escadas suspensas às estrelas, e sobretudo, aprendermos desde cedo a nunca termos medo da noite.
Somos únicos mas não estamos sós.

É crime roubar um livro de que gosta?

Queremos saber a vossa opinião sobre esta história. Acham que é um crime? E é um crime leve ou grave? O que o escritor relata é considerado roubar? As vossas opiniões PRECISAM-SE. Participem no link dos comentários logo abaixo do texto. (Não se esquecam de colocar o vosso nome).

"Aos dezasseis anos, em 1964, encontrei emprego para o período depois das aulas na livraria Pygmalion, uma das três livrarias anglos-alemãs de Buenos Aires. A proprietária era Lily Lebach, uma judia alemã que tinha fugido dos nazis e se instalara em Buenos Aires no final da década de 30, e que me encarregava diariamente da tarefa de limpar o pó a cada um dos livros da livraria - método pelo qual ela julgava (acertadamente)que eu depressa ficaria a conhecer a existência e a sua localização nas prateleiras.

Infelizmente, muito dos livros aliciavam-me para além da mera limpeza; queriam que eu pegasse neles, os abrisse e inspeccionasse e, por vezes, nem mesmo isso bastava. Algumas vezes furtei um livro tentador; levava-o para casa comigo, escondido no bolso do casaco, pois não me bastava lê-lo; tinha de o possuir, de o chamar meu.
A romancista Jamaica Kincaid, ao confessar o mesmo crime de furtar livros da biblioteca na sua infância em Antígua, explicou que não era sua intenção cometer um furto; mas «depois de ler um livro, não suportava a ideia de me separar dele»

...A Sra. Lebach sabia decerto que os seus empregados surripiavam livros, mas suspeito que, enquanto ela achasse que não excedíamos certos limites tácitos, continuaria a permitir a prática desse crime. Uma ou duas vezes, quando me viu embrenhado nalgum livro recente, mandou-me meter mãos ao trabalho e guardar o livro para o ler em casa nos meus tempos livres. Passaram-me pelas mãos livros maravilhosos na sua livraria."

[Alberto Manguel em Uma História da Leitura]

sábado, 8 de maio de 2010

Escrever ao som do Bolero de Ravel, ou como a música liberta o texto.

Na oficina de escrita realizada em Abril realizamos um exercício de escrita automática, ao mesmo tempo ouvimos um famoso trecho de música clássica, o Bolero de Ravel, obra que mantém uma melodia uniforme e repetitiva. O contraste está no crescendo ao longo da música; de facto o constante aumento de volume, da intensidade de orquestração, desperta atenção redobrada aos pensamentos e emoções circulantes em determinado momento.